Por um bilhete de cinema digno
Numa altura em que Portugal atravessa uma conturbada fase política e social, é meu dever, como pessoa que escreve coisas na Internet, chamar à atenção para as questões realmente fraturantes da nossa sociedade.
Já muito se falou, e continua a falar, dos méritos técnicos e sociais de assistir a um filme numa sala de cinema. No entanto, há um aspeto que foi perdendo destaque ao longo dos anos, empurrado sem dó nem piedade para um recanto obscuro da nossa memória coletiva, e que está destinado a desvanecer-se no tempo, como lágrimas à chuva.
Lembram-se quando era possível guardar orgulhosamente, durante anos e anos, aquele diminuto mas simbólico pedaço de cartão que atestava que se esteve naquela sessão e que foi uma das experiências mais espetaculares de sempre? Lembram-se quando um simples bilhete significava mais que todas as cassetes de vídeo do mundo? Pois parece que esse pedaço de memória está reduzido a isto:

O que raio aconteceu ao bilhete de cinema?
Desde quando é que nos contentamos com um recibo do talho, mal impresso, que se apaga em pouco mais de um mês? Não estará já na hora de devolvermos ao bilhete de cinema a importância de outros tempos?
Se estamos a pagar por algo cuja única recordação física é um pedaço de papel, o mínimo que poderiam fazer era dar alguma dignidade a esse pedaço de papel.
Os espetadores de cinema deveriam ser mais do que um código de barras.